terça-feira, 17 de março de 2009

décima quinta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Karl está prestes a chegar à sala de aula, está atrasado. Tem o rosto escuro e sonolento. Abre a porta. Entra. Empurra o objecto porta para trás, com preguiça: o barulho é superior ao silêncio: TRÁS, diz a porta. Senta-se no seu lugar. O ambiente é propício para dormir mais um pouco. Karl levanta o braço direito: professora, posso passar pelo mapa do meu sonho? Karl está numa aula de Geografia. Debruça-se sobre a página dezasseis, a bochecha direita sobre a folha fria. Adormece. No sonho, Karl está num espaço sinuoso, está numa fenda tectónica, e quase cai, está no limite das suas forças, contudo a tentação é maior que a obrigação: olha lá para baixo; sente-se tão alto que nem vê o final da sua queda. Nesse exacto momento Karl salta da cadeira sobressaltado e, assustado, olha para a professora de Geografia, que fala sobre um certo país visto de cima. Karl lembra-se do sonho, tremem-lhe os joelhos: as vertigens não me deixam adquirir certos conhecimentos, afirma Karl, enquanto segura com força as duas rótulas. Olha novamente para o livro ainda com o coração aos pulos: ali já não existiam saberes que o motivassem, o medo tinha bloqueado a iniciativa de aprender naquele espaço de papel. Rapidamente passa para a página vinte e dois. No topo, o título da nova matéria. Vulcões, diz ele para si, a sussurrar. Karl pensa em levantar o braço direito para fazer de novo a mesma pergunta à sua professora, não o faz. Coloca as duas mãos no queixo, aborrecido, e pensa em algo enquanto olha para a nova matéria curricular. VULCÕES, é o que lá está escrito. Aqui é que não me apanham a dormir, reflecte Karl, irritado com a monotonia. Certas disciplinas obrigam-nos a arriscar a vida demasiadas vezes; uma falta de consideração, é o que eu vos digo, uma falta de consideração pelos direitos e pela segurança dos estudantes exigentes.


Autor: Rui Almeida Paiva

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