segunda-feira, 29 de junho de 2009

septuagésima terceira tentativa para chegar ao mesmo sítio

Estudo sobre o desequilíbrio

1.

Um pequeno carro vermelho atravessou uma auto-estrada em contramão. O desequilíbrio, aqui, não chegou ao destino de quem conduzia o carro vermelho – um morto, um ferido grave e um ferido ligeiro. Outro desequilíbrio: o condutor do carro vermelho corresponde ao ferido ligeiro do acidente.


2.

Um homem vaidoso tem mais espelhos na casa de banho do que livros interessantes na sua biblioteca. Passear ao longo de toda uma rua com o cabelo bem penteado dá mais nas vistas do que passear a inteligência pelo meio do quarto. A opção é sair de casa e esperar que a inveja dos outros homens produza desequilíbrio: que os faça acelerar o passo na direcção de uma mercearia que venda pentes consistentes. E ao lado da mercearia uma livraria deserta de gente: apercebe-se disso, o homem vaidoso, e fica contente pela sua influência. Consegue-se, hoje em dia, convencer melhor pela aparência do que pela apetência.


3.

Um amigo de infância entra na mesma festa em que me encontro e não me cumprimenta. Fica intimidado. Está velho e não sabe lidar com as rugas que lhe começam a estragar os anos que se avizinham. Será a velhice um saco de produtos fora do prazo? Ou a digestão é um problema grave que afecta apenas certas e determinadas pessoas?


4.

Situamos uma canção vinda do fundo do mar. Os peixes comunicam para sobreviverem por detrás das algas. É assim que o marinheiro passa as noites: a ouvir o fundo do mar. Maneira fácil de adormecer, pensa. Quase a entrar no primeiro sonho continua a ter ideias: como será que um náufrago comunica? Não pode ser através de uma braçada mal conseguida, pois não? No fundo do mar o marinheiro ainda vai encontrando aspectos que o convencem a não ter medo de fechar os olhos. Mais tarde, talvez quando tiver a responsabilidade de todo o navio, nessa altura as insónias tornar-se-ão insuportáveis. Como será que um náufrago comunica com a superfície? pensa o marinheiro, não conseguindo enganar o receio de um dia o atirarem ao mar.



autor: rui almeida paiva

domingo, 28 de junho de 2009

septuagésima segunda tentativa para chegar ao mesmo sítio

Estudo sobre o número

1.

É horrível destilares apenas porque lês um autor sul-americano. Limpa exaustivamente a cadeira em que te sentas: é lá que repousarás a criatividade: na higiene. Estás prestes a abrir o livro que está quase a chegar ao fim. Começa depois a contar o número de vezes que respiras e assim (deste inspirar e expirar contabilizado enquanto lês o livro) poupas uma quantidade enorme de histórias sobre indígenas que nunca chegarás a conhecer. «Limpa sempre a cadeira antes de te sentares» foi isto o que aprendi neste dia tão inútil.

2.

Uma imigrante tem a pele escura do Sol e da nascença e tem os olhos demasiado azuis para nos aproximarmos deles. Veio do seu país com um número limitado de mercadorias – dois volumes, começa a contar. Dois filhos são duas cargas imprescindíveis de fazer dinheiro fácil. Primeiro rasgo-lhes a roupa, depois obrigo-os a pedir pelas ruas, pelos cafés e pelas estradas com semáforos. A duas crianças não se recusa tão bem uma moeda pouco valiosa, esta é uma expressão que lhe surgiu da experiência. A imigrante, escondida atrás de um caixote do lixo, ri-se da eficiência da mercadoria que trouxe do seu país. O filho mais pequeno (mercadoria portátil, costuma ela chamá-lo à noite, quando bebe demasiado whisky) consegue uma expressão mais agonizante que o seu irmão: é este o filho que recebe o único beijo que a imigrante disponibiliza aos seus dois meninos de olhos tristes.

3.

O jornalista tem pressa de vender a notícia porque tem uma filha para nascer na barriga de uma desconhecida. Quem comprar a notícia está a vender os ferros que arrancarão um feto da desconhecida. Tem que fazer sucesso a minha mais recente notícia, interpõe ele, enquanto folheia as folhas redigidas a dois espaços, talvez consiga ser capa de um jornal importante. Se a vida me continuar a correr bem, poderei continuar a fornicar desconhecidas sem me ter que preocupar com as suas possíveis consequências negativas. Para ter um filho de uma mulher tenho que gostar dela; nessa altura (se essa altura chegar), consigo prever o jornalista aborrecido em que me tornarei.

4.

A rapariga bonita baixa o olhar porque tem consciência da sua beleza: é bonita e é tímida, a rapariga, o que por um lado diminui o número de namorados, e por outro multiplica o número de olhares que a atacam.

5.

Se arrombaram a porta do teu vizinho, tem cautela: a violência tem uma quantidade de espontaneidade muito reduzida – não oferece alojamento ao acaso. É altura de te preocupares com a saliva que gastas só por teres medo. Não é suficiente ficares sozinho enquanto passeias no meio da sala. Tens de actuar: coloca fechaduras com códigos pouco prováveis na porta de entrada e nas janelas coloca ferros aos quadrados. E, na altura em que for tão difícil saíres de casa como alguém conseguir entrar nela, a partir dessa altura começa a relaxar. Mas por enquanto tudo é possível. O teu vizinho sai todos os dias de casa e já foi assaltado cinco vezes. Mantém-te alerta, homem, que um bom ladrão tem sempre muito de jogador de cartas: a batota é regra fundamental para meter medo aos assustados.


6.

O banhista protege-se do Sol como o cão da raiva. Apetece-te sujar a pele de areia e de Sol. Atirar um bom mergulho fica-te bem e ninguém desconfia disso: é saboroso e está dentro dos parâmetros. O pior é teres que te despir e não te despes porque o teu corpo é a única estupidez que não está dentro dos parâmetros. O cão morde outro cão para se vingar do mundo. A raiva alastra-se. Chegará mais tarde ou mais cedo ao homem que não se despe e que mergulha e que é observado por quase toda a gente. Sabe-lhe bem, o mergulho refrescante, mas ainda não saiu do mar com a última onda e ainda não está preparado para ser mordido pela incompreensão dos que não tiram os olhos da sua figura a boiar (ainda não está preparado para ser mordido pela raiva). Trinta e cinco cães esperam-no, nas suas toalhas.


autor: rui almeida paiva

sexta-feira, 26 de junho de 2009

septuagésima primeira tentativa para chegar ao mesmo sítio

Estudo sobre a coluna vertebral


1.

Doem-te as costas de tanto olhar para uma posição complicada? Muda então de cadeira, ou então desvia o olhar – o exercício é sempre aconselhável para os músculos que suportam posturas incómodas.


2.

Não é errado, de acordo com a convenção do padre, desconfiar da alma. Entra uma mulher na igreja, aproxima-se do altar, esforça-se (quando já está de joelhos) para encurvar as costas apesar da fraqueza: reza em voz alta, esta mulher diferente. Entra uma segunda mulher na igreja, senta-se no banco de pinho, reza em silêncio. O padre desconfia apenas da mulher que grita, não se apercebendo que a segunda mulher entrou na igreja apenas para fugir da chuva. Julgo que a senhora não tem o comportamento adequado para frequentar a casa de Deus, notifica o padre junto da primeira mulher. Grito para que Deus me oiça, é que em silêncio não tem resultado e hoje estou com muita pressa para que me salvem, respondeu a primeira mulher com um sofrimento comovedor vindo da zona lombar. Dentro de duas horas a operação teria obrigatoriamente de começar com um bisturi a rasgar-lhe a pele de cima a baixo.


3.

Se examinarmos o depravado, verificamos que tem uma coluna vertebral de crimes por iniciar. Cada vértebra é uma necessidade obscena prestes a explodir. Começarei por baixo, pela lombar, ou por cima, pela cervical? analisa ele, enquanto vê passar uma velhinha com um saco das compras numa mão e uma bengala na outra. Começarei por baixo, responde ele à própria dúvida.

4.

Não se pode hesitar entre a electricidade e a falta de luz. A minha cidade tem o princípio da actividade e as pessoas que nela habitam escondem-se imediatamente quando a luz da lâmpada se apaga. Os restaurantes fecham. Os bancos não cospem dinheiro. As joalharias têm medo dos que sabem apalpar na escuridão. A coluna vertebral da minha cidade é necessariamente uma sucessão de Watts posturalmente correctos em vez de uma sucessão de ruas desniveladas e tortas.

5.

Encolhem-se os dedos para se evitar a agressão – para se evitar o soco na sabedoria. O jovem de que vos falo aprendeu a roer as unhas como aprendeu a fumar. Aprendeu a imitar os outros, este jovem, que poucos anos depois tinha cancro nos pulmões e os dedos mostravam o princípio dos ossos da terceira falange.


6.

Um café curto, pede a velhota. O café curto dura-lhe três horas de ocupação. Antes de anoitecer tem que seguir caminho. Tira duas moedas da carteira. Na outra mão uma lupa, uma pequena lupa que se sobrepõe às lentes grossas dos seus óculos antiquados. Com os dedos a tremer verifica o valor de cada moeda. É confirmado o valor através da lupa: o café está pago.
Conclusão anatómica:
As lordoses, tal como as cifoses, são desvios que também podem aparecer de um mau jeito na visão.



autor: rui almeida paiva

quinta-feira, 25 de junho de 2009

septuagésima tentativa para chegar ao mesmo sítio

Estudo sobre o apoio facial invertido (pino)

1.

Um homem muito pálido atravessa a estrada. Percebe-se, através de um conjunto de sinais mais ou menos evidentes, quando a saúde não nos abraça. O homem muito pálido carrega uma doença muito pouco irrigada – deitar de cabeça para baixo uma cor pode originar a falta de sangue dessa cor? A palidez colorida, por exemplo, será isto possível? Um homem muito pálido atravessa a estrada e confunde (inverte) o significado da sobrevivência: confunde o semáforo vermelho com o semáforo verde. É atropelado imediatamente. Existirá palidez no vermelho? – no sangue, no chão, no alcatrão?


2.

Comparar um sem-abrigo com um passarinho é uma asneira que me parece cruel. Comparar o passarinho preso numa gaiola com um sem-abrigo – talvez seja mais apetecível olhar desta forma o mundo.


3.

A estudante tinha as pernas tão arqueadas que os meninos gostavam de espreitar os monumentos pelo espaço que existia entre um joelho e o outro. Era como se as pernas da estudante fossem binóculos presos a um miradouro. Mas neste caso (no caso específico das pernas da estudante) a lente invertia tudo o que os meninos observavam. Era uma lente que dava a imagem das suas partes íntimas. E era por isso que os meninos espreitavam atentamente, era para ver o monumento.


4.

Quando Deus finalizou a leitura aconselhada pela sereia (quando acabou de ler o dicionário como se este fosse um romance) sentiu imediatamente a necessidade de escrever aquilo a que hoje chamamos erradamente Bíblia. Título original: «a história do espelho», este sim deveria ser o nome a aparecer na capa.


5.

Será, neste caso, correcto dizer que este louco tem bastantes responsabilidades a cumprir. Chegar a horas à aula de ginástica é a sua responsabilidade preferida. Meia hora três vezes por semana é a duração desta actividade lúdica. O professor ajusta os colchões e sem perder muito tempo (o louco torna-se insolente quando espera, torna-se atrevido) dá ordens para que se faça o pino contra os espaldares. O louco, de pernas para o ar, sente um alívio incalculável – meia hora de normalidade, é o que sente.


6.

Tudo isto se tornará mais claro se considerarmos que a pedra é um animal de escutar. Uma pedra oval e negra escuta, neste momento, as preces do homem solitário. Não responde ao homem solitário, a pedra, e é desta característica dura (o saber ouvir o outro ou a compreensão exaustiva) de que são feitos os animais grandiosos.


7.

Considerando a sorte como parte activa de um recreio cheio de números pouco honestos, sugerimos, quando alguém se aproxima, uma cautela muito rigorosa. O diabo anda à solta com a ternura na ponta dos dedos e o velho entra pela primeira vez no casino com a submissão de joelhos e com dez notas num dos bolsos (o valor total da sua reforma). Ao sair do casino, o velho perdeu peso num dos bolsos e toda a sorte que lá existia. Não se pode fugir ao azar, quando se procura a sorte nos sítios errados.


8.

Existe uma tendência para a depressão quando subestimamos a felicidade. Apercebe-te, enquanto te deslocas, que as solas dos sapatos estão bem assentes ao início do chão: contrariamente ao que tu pensas, temos o direito de não ficar quietos. O cavaleiro utiliza os cascos do cavalo para adiantar a sua felicidade: chegará mais depressa à princesa se for em cima da velocidade – aqui as solas dos seus sapatos estão bem assentes no sonho: manifestação aérea, a do cavaleiro, que sofre de saudades de poder conquistar um reino inteiro através de um único beijo.


autor: rui almeida paiva

quarta-feira, 24 de junho de 2009

sexagésima nona tentativa para chegar ao mesmo sítio

XI – Estudo sobre a arrumação



1.

Ao utilizar a força, o pescador perde muito mar. Ao utilizar a fraqueza, o político perde muito eleitorado. Para dominar o mar, o pescador sabe que tem que fazer parte da corrente: tem que arrumar a coragem o mais perto possível do cardume. Para dominar o povo, o político sabe que tem que fazer parte da ignorância: tem que arrumar a modéstia o mais perto possível da multidão.


2.

Um compositor exímio de música clássica tem o dom de dobrar as notas sonoras de um piano como uma boa dona de casa tem o dom de dobrar a roupa do marido. As exigências destes dois génios são unicamente três: um armário com bastante arrumação, paciência , e saber lidar com a frustração.


3.

Quem tem mais de soldado: um professor ou um engenheiro? O primeiro tem que ensinar a colocar tijolos de sabedoria dentro dos seus alunos. O segundo tem que ensinar a colocar com sabedoria os tijolos dos seus empreiteiros.


4.

Fala a voz da experiência: a probabilidade de um milionário encontrar uma moeda perdida no chão é duas vezes maior que a do pobre. O milionário tem o dobro da vocação para a sorte, ou então, o dobro da ganância de conseguir descobrir dinheiro em qualquer lado.


5.

Há quem tenha unicamente espaço para arrumar tristeza. Tens uma máquina que não utilizas e não tens espaço para ela; utiliza-a como mesa – troca de máquina por máquina. Há quem tenha muito pouca vontade para sorrir – a disponibilidade é parte integrante neste processo: tens uma despensa para organizar faz hoje um ano (desde o nascimento das meninas, diz a mãe ao pai). O pai teve que se levantar vinte vezes durante a noite porque uma das filhas acordava com tosse e logo a seguir chorava porque a tosse incomoda os sonhos tranquilos com demasiada velocidade (definição adequada de susto infantil, pensou o pai numa das vezes que saiu do sofá). Poderia, durante a manhã, começar a escolher o que é lixo e colocar tudo em caixotes fundos, pensou o pai, contudo hesitante, a olhar para a confusão existente na despensa, pois poderia, mas primeiro está a vontade de dormir; primeiro está sempre qualquer coisa que sirva de desculpa para não actuar. A obrigação e as tarefas aborrecidas, a estas duas exigências, coloco-as em último lugar na minha lista de obediências conjugais.


6.

O responsável pelo talho que frequento é muito organizado: arruma a sua biblioteca de carne suspensa dentro da arca frigorífica seguindo respeitosamente a ordem alfabética do animal. Tem tudo um óptimo aspecto (inclusive a morte, que pelos vistos pode ter um aspecto asseado). Por dentro não tem muita apetência para a arrumação, o responsável pelo talho: é gordo e alto. No estômago não existe uma arca frigorífica de conservar a elegância. Fica-lhe mal, a barriga – espaço duvidoso, poderia acrescentar. O que faz ele à carne quando está sozinho? Poderá ele comer carne crua às escondidas?


7.

Uma mulher pouco elegante desarruma mais a locomoção que um Outono cheio de folhas no chão. Depois de memorizares esta informação tens múltiplas hipóteses de tornares os outros organizados. Vai até à praça, detecta quem tem potencial e, com coragem, aproxima-te da tua vítima e disponibiliza-te para a ajudares a ajeitar as suas apetências físicas para os sítios certos. Na locomoção existe quase tanta sedução como numa cama, pensas tu enquanto te aproximas da tua vítima.


8.

A brincadeira preferida das crianças é tirar tudo do sítio. Olha ali duas molduras tão certinhas, é para lá que a criança se dirige primeiramente. O artista nunca deixa de ser criança nos aspectos da arrumação – ali estão dois conceitos demasiado estáveis – é para lá, com certeza, que o artista se dirigirá primeiramente.



autor: rui almeida paiva

terça-feira, 23 de junho de 2009

sexagésima oitava tentativa para chegar ao mesmo sítio

Estudo sobre a mímica



1.

Obedecia aos gestos, o mudo. Esperava pela hora de entrar pela porta do café do bairro e estudava as próprias mãos como o linguista estuda a própria semântica. Apontava, quando não se sabia explicar, para os objectos como os romancistas apontam para o vocabulário. Mas não poderia ser poeta, o mudo – os adjectivos são palavras sem dedo indicador.


2.

Utilizando a linguagem oral, o que é que prevalece, a conversa ou a expressividade? Dez dedos e um rosto são onze dedos que conseguem dizer muito pouca coisa. Responder sim, para o mudo, é como responder não: é tudo demasiado fácil se não exigirmos explicações. O pior é justificar a resposta (justificar o sim ou o não), que atrapalha inevitavelmente a conversa que deveria ser exacta. E nos restantes casos, não se passará o mesmo? – a explicação não é muda, é surda, quando nos faltam os argumentos.


3.

SUPOR, para o imperador, era exercer um dever que fazia parte do protocolo original. Necessitaria apenas de uma cadeira confortável, este senhor nobre; era uma exigência de que não prescindiria – a sua cadeira confortável. A metodologia utilizada era simples (poderemos até denominá-la universal): primeiro o imperador sentava-se, e depois supunha. Um dia supôs que tinha perdido a voz de cada vez que se sentava na sua cadeira confortável. No final desse dia, e já de pé, o imperador advertiu os que o ouviam: em pé não se supõe tão bem, para algumas tarefas tem que se estar a observar a vida de baixo.


4.

Quando o ministro do Trabalho se apercebeu de que um grande número de profissões não necessitariam de ser verbalizadas para se perceber a sua definição perante toda uma sociedade (o motorista roda o volante e todos têm a certeza de que é ele que nos leva ao destino proposto; o varredor pega na vassoura e roda o pulso repetidamente e ficamos elucidados do ofício por si escolhido; o arqueólogo faz um buraco vagaroso como se estivesse a acariciar o esqueleto da Terra, como se estivesse a averiguar a quantidade de cócegas debaixo da superfície), quando o ministro se apercebeu de tudo isto, começou a dar prioridade a duas categorias de pessoas para resolver o problema do excesso de emprego: deu prioridade aos tímidos e aos mudos.


5.

Para se aproveitar uma nudez são necessárias duas premissas: existir um corpo forte sem roupa e existir uma luz forte sem lua. E se te deres conta (supondo que fazemos parte integrante deste episódio) que estás junto a esse corpo despido, percebes facilmente que tudo o resto que aparecerá entre ti e o corpo despido depende dos gestos. Sem gestos, sem a manifestação do toque, faço a seguinte pergunta: conseguiríamos nós ter um proveito absoluto desta pessoa despida se activássemos o pudor que se situa entre as pernas e o desejo?


6.

Para averiguar a sua pureza, a florista costuma instalar-se à frente do espelho e comunicar as asneiras que lhe aparecem na boca: merda, puta, cabra, nojenta, asquerosa. Do outro lado, do lado do reflexo, os insultos são mudos, explica, e entre os dedos da mão direita um ramo de rosas brancas. A pureza da florista em frente ao espelho concentra-se apenas na sua mão direita, e ela sabe-o; por isso faz questão de reflectir enquanto olha para si: tudo isto serve para construir um equilíbrio entre o braço e a extremidade da boca.


7.

A conversa entre a mãe e a filha adolescente não atribui qualquer vantagem à maternidade e ao esforço que foi realizado por aquela durante uma dúzia de anos. A filha sai de casa todos os dias e no trajecto para a escola ouve os pássaros a discutir com a liberdade. Não é por falta de cabeça que a adolescente não dá ouvidos à sua mãe, é por falta de céu. É apenas por falta de céu que ela sente aquilo.


8.

Cuspir para a cara do inimigo é insulto maior que a frase: vai prò caralho. Uma guerra oferece ao corpo uma mímica elevada de insultos. Não és obrigado a utilizar palavras simpáticas quando seguras regularmente uma arma mortífera. As palavras deixam de servir a necessidade primária de comunicar quando em guerrilha: apontas uma metralhadora à cabeça de um chinês e ele percebe-te. Fala-se a mesma língua, em todas as guerras, desde que se cumpra, claro está, com o objectivo de se entender o tiro como uma palavra assassina.



autor: rui almeida paiva

sexta-feira, 19 de junho de 2009

sexagésima sétima tentativa para chegar ao mesmo sítio

estudo sobre o gigantismo

1.

A única razão para se achar atraente um homem alto, é que este é visto com maior facilidade entre a multidão: é visto um maior número de vezes – é uma vantagem numérica, portanto. E o matemático queixa-se de ser baixo por fora sem entender que pode ser visto muitas vezes por dentro quando resolve elegantemente equações complicadas de geometria analítica.


2.

Deus não é engenheiro, é agricultor. Semear uma casa em cima de uma bela montanha é semear algo maior que um prédio na baixa da cidade. E Deus sabe-o muito bem, porque quando somos felizes não precisamos de muitos degraus para sorrir. «Levai-nos ao cume e lá ficarás satisfeito». Rente ao chão das alturas (em cima da montanha) não é necessário sair pela janela, basta ter uma porta para que a rua te proteja. No cimo da montanha (e repara bem nesta informação extra), no cimo da montanha não precisas de subir para ver na paisagem o impulso das alturas.


3.

Se pressentires uma pedra volumosa a vir em tua direcção, planta uma flor no local onde te encontras e substitui o teu corpo pelo que semeaste. Desvia-te, depois, atempadamente. Uma flor tem sensibilidade mas não tem locomoção, e, nestes ataques da natureza bruta, utiliza o defeito de certas criaturas (neste caso a falta de locomoção da flor) para te salvares. A crueldade, talvez seja este o grande defeito do ser humano.


4.

Quando desenho uma linha horizontal espero apenas razão. Quando desenho uma linha vertical espero apenas elegância. E quando as duas se cruzam, o que posso esperar desse encontro entre a razão e a elegância? Talvez uma criatura insensível. Mas antes dessa criatura misteriosa, um único ponto, e desta resposta não me posso escapar.


5.

Um anão pode ter um sorriso alto e o gigante pode ter uma ambição baixa. Trocam-se as características físicas pelas características espirituais e nasce um Homem mais justo. Lembra-te sempre disto: uma flor pode ser muito mais interessante do que uma árvore secular. E esta é apenas mais uma prova de que o mundo vegetal adquiriu um sentido de justiça mais apurado que o cérebro seco do Homem.


autor: rui almeida paiva

quinta-feira, 18 de junho de 2009

sexagésima sexta tentativa para chegar ao mesmo sítio

1.

Certa tarde, à frente de uma loja de antiguidades, um pensador tirou da sua mala um prato como se estivesse a tirar da mala um guarda-chuva (tinha começado a chuviscar como estava anunciado no jornal). Esperou, depois, que o prato se enchesse até ao bordo (num dia como aqueles, não tardaria a ficar satisfeito com a quantidade pretendida de líquido caído do céu). Entrou imediatamente na loja. Um prato valioso, disse o pensador. Só compramos objectos idosos, objectos que estejam ou minimamente estragados, ou minimamente sujos, referiu o dono da loja. Quer algo mais antigo que um pedaço de céu? ainda argumentou o pensador, abanando a cabeça como que desapontado com a incompreensão dos seres normais.


2.

Convém alertar os especialistas de uma nova categoria de alergias: os pratos sem fundo. O prato tem de ser prato e tem de ser pouco fundo para pertencer a esta nova alergia de que vos falo; é também, felizmente, a minha única incompatibilidade com a matéria que me rodeia. Não costumo ficar com comichão, nem com hematomas, nem com ataques de espirros, vomito apenas quando me deparo com este produto tóxico: o prato raso. É esquisito, mas cada vez compreendo melhor esta minha alergia por pratos rasos – é difícil depararmo-nos com o exageradamente superficial. Ainda ontem vomitei em cima de uma mulher que discursava sobre estratégias para pintar as unhas dos pés sem se sujar. Talvez seja uma outra alergia, a de não suportar pessoas sem fundo, mas para isso chamaria um psiquiatra e não um alergologista.


3.

Parece-me útil ter a convicção de que um prato se assemelha mais com um bife de vaca bem passado do que com um naco de barro dentro do forno. Vejo um prato a frequentar com maior satisfação uma cozinha do que uma olaria. O sexo feminino do oleiro são as suas duas mãos no barro. E este último, o barro, é o sexo masculino deste artesão, que continua a esforçar-se no seu ingrato ofício.
Até aos cinco anos de idade não nos recordamos das educadoras que nos abraçaram, que nos deram colo, que nos alimentaram. Actividade ingrata, a do oleiro, que nunca chega a ter o reconhecimento devido da sua actividade.


4.

Um prato também tem dores de barriga. Muitos alimentos, quando expostos demasiado tempo ao calor, ficam de tal forma entranhados na loiça que muito dificilmente se pode evitar as cólicas no intestino grosso dos pratos com uma dieta desregrada.


5.

A morte de um prato tem tanto de terrível como de inesperado. Soube de um vizinho meu que morreu porque não estava com a saúde na respiração. O meu vizinho era homem de família e, com um ataque de falta de ar repentino, decidiu atirar-se do décimo andar com a boca aberta. Procurar rapidamente ar onde ele existe, foi o seu pensamento – em grandes golfadas, foi esta a estratégia trágica que utilizou. Quando caiu, partiu-se em vários, o meu vizinho.
Tenho um filho à minha frente (enquanto escrevo este texto) irritado com o sabor do arroz: o arroz provoca-lhe cócegas na língua. Durante a birra apercebo-me que empurra o prato para o chão: quando caiu, partiu-se em vários, o prato do meu filho.


6.

Sente-se em forma, hoje, o actor. Tem no olhar um brilho estragado e uma inquietude que se encaixa milimetricamente na personagem. Quando encarno alguém velozmente, sou velocista a chegar aos ossos do outro que aparece em cima do palco. Estou em forma, hoje, para chegar a esse esqueleto; e abre-me o apetite todo este exercício de atleta. Arrumo cada fala entre o pâncreas e a vesícula e torno-me em alguém fiável para os espectadores. Noutros dias (e a maior parte das vezes é assim) o actor sente-se em baixo de forma: desiste, a meio de uma prova dos cem metros barreiras. Caindo, portanto, a meio da personagem, não conseguindo nem chegar à pele do outro que aparece em cima do palco.


7.

Muita da eficácia dos alimentos tem directamente que ver com a forma como estes são apresentados aos clientes. Aqui a comida pode ou não estar em forma. E chegar em tempo recorde ao apetite do homem com pouca fome tem mais de apresentação que de sabor.



autor: rui almeida paiva

sexagésima quinta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Perdermo-nos debaixo dos lençóis tem tanto de falta de sentido de orientação como os nove jovens que não conseguem regressar ao acampamento. No primeiro exemplo os lençóis brancos tapam o que sobra de obsceno. No segundo exemplo a neve branca tapou todas as referências que partem dos olhos infantis dos nove jovens. Nos dois casos, foi o frio, o principal responsável pela destruição de todas as possibilidades que a felicidade tinha em prosseguir o seu caminho distraidamente.


autor: rui almeida paiva

quarta-feira, 17 de junho de 2009

sexagésima quarta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Lembro-me do bigode de um amigo próximo que tenta tapar uma timidez indisfarçável. É uma boa alternativa, a do meu amigo – na boca denunciamos uma quantidade estúpida de verdades.
Um dia que amanhece cheio de nuvens, lembro-me eu agora, é um bigode no céu que alguns países não conseguem eliminar.
autor: rui almeida paiva

terça-feira, 16 de junho de 2009

sexagésima terceira tentativa para chegar ao mesmo sítio

Viver um estado de febres altas é oferecer ao interior do corpo um Verão antecipado. Mas existem sempre as consequências nefastas de conseguirmos beneficiar dos prazeres fora de época; as dores de cabeça e as alucinações, por exemplo, são as más notícias de um Verão mal passado no sistema imunitário.


autor: rui almeida paiva

segunda-feira, 15 de junho de 2009

sexagésima segunda tentativa para chegar ao mesmo sítio

Quantos pincéis o pintor utilizaria para desenhar o frio?
É cada vez mais complicado conseguir atingir certos conteúdos dentro dos museus, explica o artista – o ar condicionado tornou-se um inimigo da evolução imaginativa do Homem.
O pintor deixou de utilizar pincéis e deixou de misturar as cores quentes com as cores frias. Pega (o pintor) numa caneta preta e, no centro do quadro escreve: GÉLIDO. Temos que ceder às novas tecnologias, justifica-se. Arte conceptual, avaliam os críticos de arte desta nova pintura em exposição. Um pintor desarmado, avalia a criança, que entendeu a crise existencial do pintor como ninguém.


autor: rui almeida paiva

domingo, 14 de junho de 2009

sexagésima primeira tentativa para chegar ao mesmo sítio

A acumulação de tecido adiposo na zona do ventre favorece as relações amorosas intensas. É preciso ter estômago para aguentar uma grande dose de paixão. E os namorados, nestas condições (com gordura instalada nesta zona do corpo) aguentam mais tempo uma discussão porque a célula adiposa, como princípio de formação, foi produzida para aproveitar durante mais tempo aquilo que gela o corpo – o mar, por exemplo, ou então uma mulher insuportável.


autor: rui almeida paiva

sábado, 13 de junho de 2009

sexagésima tentativa para chegar ao mesmo sítio

Uma parte dos meteorologistas, os de uma corrente mais mecânica, explicam o frio como explicam o elevador – abaixo dos doze graus existe frio, acima dos doze graus existe calor. O frio aparece porque o termómetro aumenta de peso e porque a gravidade, no universo, desce mais que sobe. A temperatura é um elevador que foi arquitectado para transportar formas de cobrir o corpo com mais ou menos roupa, dizem estes cientistas.
Outra parte dos meteorologistas, os que fazem parte de uma tendência mais sofisticada, definem o frio como sendo um produto de uma conjugação de variáveis como a temperatura, o vento, a chuva e a humidade. Estes últimos vivem mais com a matemática dos cálculos do que com as sensações no corpo. Eu, que não sou propriamente um cientista de renome, fujo da explicação deste fenómeno (do fenómeno do frio), fico-me apenas pelo meio de todas as tendências – escolho roupa quente no Inverno e roupa fresca no Verão, nunca me preocupando, quando utilizo sabedoria em doses elevadas, com o que pode ser bastante desagradável.


autor: rui almeida paiva

quinta-feira, 11 de junho de 2009

quinquagésima nona tentativa para chegar ao mesmo sítio

As mulheres são mais bonitas quando não têm frio. Quanto maior a temperatura, melhor para mim, que gosto de assistir a grandes partes despidas. Gosto de acasalar, essencialmente, no Verão – animal visual, explicou-me o meu advogado, antes de tratar do meu décimo divórcio consecutivo. Hiberno no Inverno, como os ursos. Mas como? escondo o meu pénis, deixando de o utilizar enquanto faz frio. «Animal visual», escrevo eu na declaração, no sítio onde deviria assinar o meu nome.


autor: rui almeida paiva

quarta-feira, 10 de junho de 2009

quinquagésima oitava tentativa para chegar ao mesmo sítio

Nem sempre é aconselhável activar o instinto de sobrevivência. Na praia, por exemplo, quando apanhas conchas partidas, tens que desligar este dispositivo – aqui, talvez, a principal razão de se ter proibido o esquizofrénico de se aproximar da beira-mar. Por outro lado, no hospital, é necessário estares alerta desde que dás entrada no bloco operatório. A luta pela sobrevivência depende da localização do teu corpo no espaço. Aquilo que afirmo é percebido se fizermos esta previsão: quantas pessoas tentam sobreviver numa praia em comparação com as que tentam sobreviver no hospital? Temos de estar preparados para morrer mais em determinados lugares do que noutros. Morre-se mais no hospital que numa praia, isto é um facto, mas também se sobrevive mais à morte num hospital do que numa praia, e isto também é um facto.

autor: rui almeida paiva

terça-feira, 9 de junho de 2009

quinquagésima sétima tentativa para chegar ao mesmo sítio

Tomas banho com o objectivo de eliminar o odor que te pertence. Pode até tornar-se confuso não apreciares o que é produzido propositadamente para te ligar ao teu parceiro sexual. Mas (neste contexto concreto, no contexto conjugal) entenda-se a água que escorre sobre a pele como uma alternativa à inteligência criativa. Matas o teu próprio odor em prol da ciência prodigiosa: quase toda a poesia nasce de um mergulho, já reparaste? E para seres poeta também tens de ser assassino (como se tem vindo a descobrir desde os gregos): saber eliminar o que te parece supérfluo é a primeira regra do assassino, regra também aplicável ao poeta, que escolhe aniquilar o aroma do próprio corpo para obter a experiência com a água.


autor: rui almeida paiva

quinta-feira, 4 de junho de 2009

quinquagésima sexta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Tiraram-lhe uma radiografia aos pulmões mas ele sabia que o pessoal especializado não tinha as informações do verdadeiro caminho a tomar da sua nova doença. O problema está no coração, corrigiu ele, assim que a enfermeira apontou a máquina fotográfica para os pulmões. Então explicou-lhe: a minha mulher deixou-me porque eu não era o homem que lhe aparecia nos sonhos. Ainda aluguei um cavalo branco e vesti-o com rosas brancas e fui esperá-la ao trabalho em cima do animal. Ela não gostou: no sonho não havia qualquer cavalo branco.
Está comprovado por um número significativo de testemunhas, que tentei de tudo para manter a nossa relação, mas de todas estas tentativas, a única que concretizei foi não conseguir entrar em nenhum dos sonhos da minha mulher.


autor: rui almeida paiva

quarta-feira, 3 de junho de 2009

quinquagésima sexta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Entendemos melhor um comprimido na boca do que uma injecção no braço.
O reformado despediu-se dos colegas como se se despedisse da própria vida. Na semana passada tinha ido ao Ministério do Ambiente pedir que não lhe atribuíssem o estatuto de homem em final da carreira. Responderam-lhe todos com um peremptório NÃO. Quantas plantas já se tinham deslocado ao mesmo departamento para pedir outras regalias? (o mais comum era irem lá para pedir a reforma antecipada), e a resposta continuou no mesmo tom; NÃO, aqui está o tom semelhante para todas as possibilidades existentes. Interessa, talvez, divulgar aqui, que os governos, habitualmente, não gostam de cidadãos que peçam coisas, não interessa o que seja pedido, interessa é dizer imediatamente NÃO como se isso fosse um reflexo agressivo e essencial para o progresso. O que interessa é calar as bocas.
O reformado questiona-se no primeiro dia de descanso, sobre a hipótese de não conseguir sair de dentro da terra (de dentro do vaso onde o colocaram). Uma planta começa a murchar nas ocasiões menos previstas; quando as canções tristes estão na moda, por exemplo, nessas ocasiões o índice de plantas a murchar aumenta disparatadamente. No primeiro dia de descanso o reformado não sabe para onde ir, está preso à inutilidade, e não consegue respirar – murcha, portanto, aos poucos: é como se a sua vida começasse a fazer parte da letra de uma canção triste.


autor: rui almeida paiva

terça-feira, 2 de junho de 2009

quinquagésima quinta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Tem mais valor um relógio que acerta sempre nas horas, ou um relógio que não sai de casa por ser demasiado valioso?
Quanto ao dono deste objecto, continua a ter o defeito insuportável de chegar constantemente atrasado aos encontros amorosos.
O relógio não serve para medir as horas, não é fita métrica com segundos lá enfiados a fazerem de conta que são milímetros em marcha. O relógio serve sim para tocar no tempo, para acertar nele. E o homem de que falamos (com medo de estragar o seu valioso relógio) chegava aos sítios quando o tempo certo já se tinha ido embora, e com ele tinham desaparecido as mulheres que não gostavam de esperar por ninguém.

autor: rui almeida paiva

segunda-feira, 1 de junho de 2009

quinquagésima quarta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Proíbo-te de pagares para teres aquilo que te dá prazer. Para tudo o resto podes gastar fortunas. Para essas coisas sem importância (para o que não te dá prazer) deves ir à carteira e retirar dinheiro, e, se te apetecer, concedo-te a liberdade de não receberes o troco as vezes que quiseres. Tudo isto funciona como um beijo numa prostituta; tudo tem um preço, até os lábios destas mulheres durante cinco minutos. Mas isso não te pode dar prazer. O prazer vem depois do truque porque, para não precisares de comprar os lábios de quem costuma alugá-los, terás de a convencer do facto de que esta (a prostituta) possa estar apaixonada por ti. Saberás que isto sucede quando ela deixar de olhar para os teus bolsos como costuma olhar para o teu pénis, aí o prazer pode começar realmente.


autor: rui almeida paiva