sexta-feira, 19 de junho de 2009

sexagésima sétima tentativa para chegar ao mesmo sítio

estudo sobre o gigantismo

1.

A única razão para se achar atraente um homem alto, é que este é visto com maior facilidade entre a multidão: é visto um maior número de vezes – é uma vantagem numérica, portanto. E o matemático queixa-se de ser baixo por fora sem entender que pode ser visto muitas vezes por dentro quando resolve elegantemente equações complicadas de geometria analítica.


2.

Deus não é engenheiro, é agricultor. Semear uma casa em cima de uma bela montanha é semear algo maior que um prédio na baixa da cidade. E Deus sabe-o muito bem, porque quando somos felizes não precisamos de muitos degraus para sorrir. «Levai-nos ao cume e lá ficarás satisfeito». Rente ao chão das alturas (em cima da montanha) não é necessário sair pela janela, basta ter uma porta para que a rua te proteja. No cimo da montanha (e repara bem nesta informação extra), no cimo da montanha não precisas de subir para ver na paisagem o impulso das alturas.


3.

Se pressentires uma pedra volumosa a vir em tua direcção, planta uma flor no local onde te encontras e substitui o teu corpo pelo que semeaste. Desvia-te, depois, atempadamente. Uma flor tem sensibilidade mas não tem locomoção, e, nestes ataques da natureza bruta, utiliza o defeito de certas criaturas (neste caso a falta de locomoção da flor) para te salvares. A crueldade, talvez seja este o grande defeito do ser humano.


4.

Quando desenho uma linha horizontal espero apenas razão. Quando desenho uma linha vertical espero apenas elegância. E quando as duas se cruzam, o que posso esperar desse encontro entre a razão e a elegância? Talvez uma criatura insensível. Mas antes dessa criatura misteriosa, um único ponto, e desta resposta não me posso escapar.


5.

Um anão pode ter um sorriso alto e o gigante pode ter uma ambição baixa. Trocam-se as características físicas pelas características espirituais e nasce um Homem mais justo. Lembra-te sempre disto: uma flor pode ser muito mais interessante do que uma árvore secular. E esta é apenas mais uma prova de que o mundo vegetal adquiriu um sentido de justiça mais apurado que o cérebro seco do Homem.


autor: rui almeida paiva

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