terça-feira, 9 de junho de 2009

quinquagésima sétima tentativa para chegar ao mesmo sítio

Tomas banho com o objectivo de eliminar o odor que te pertence. Pode até tornar-se confuso não apreciares o que é produzido propositadamente para te ligar ao teu parceiro sexual. Mas (neste contexto concreto, no contexto conjugal) entenda-se a água que escorre sobre a pele como uma alternativa à inteligência criativa. Matas o teu próprio odor em prol da ciência prodigiosa: quase toda a poesia nasce de um mergulho, já reparaste? E para seres poeta também tens de ser assassino (como se tem vindo a descobrir desde os gregos): saber eliminar o que te parece supérfluo é a primeira regra do assassino, regra também aplicável ao poeta, que escolhe aniquilar o aroma do próprio corpo para obter a experiência com a água.


autor: rui almeida paiva

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