quinta-feira, 9 de julho de 2009

septuagésima nona tentativa para chegar ao mesmo sítio

Primeira viagem

Estória 1

Uma tentativa fracassada, a inteligência. O homem coça os testículos para atingir o acto de impressionar sem sigilo. Energicamente, o homem tenta defender-se do fracasso que ocorre de cada vez que abre a boca. Não consegue a simples explicação de como é possível a rotação da Terra sobre o Sol. Não tem ilusões, o homem que tenta seduzir com os dedos cheios de testículos – as palavras nele não são favoráveis. Cospe agora duas vezes seguidas para o chão – o tamanho dos testículos pode não ser suficiente para se tornar o chamariz das ocupações carnais, para se destinguir com superioridade de todos os homens que se encontram no barco. Todos uns fracos, e cospe de novo. Três cuspidelas rápidas e sonoras pareceram-lhe prioritárias para a ocasião. Todos o olham com veemência e repúdio. Faz-se notar, o homem. Sente que se faz notar, o homem. Toma em consideração esse facto e sorri com a boca toda exposta ao encontro de uma rapariga que tenta desviar-se do seu aspecto grotesco. O homem escolheu a menina mais bonita para marcar pontos na sua masculinidade. Tem a atenção de todos. Sem pretensão, pensa: não posso aviar todas de uma só vez; embora saiba que é disto que precisam, hoje sou eu que escolho em quem atracar. A menina mais bonita tenta fugir como pode, mas está dentro de um barco, e o rio é feito de água – a menina sabe apenas nadar em piscinas fundas, mas nunca se atiraria de encontro a correntes que a levariam para o mar. O homem envia-lhe uma prenda de beijinhos sonoros que ela não tem coragem de abrir. Nem chega a olhar para o embrulho. O barco atraca, pensa ela, começando a ter medo. O homem tenta mostrar a excitação que pode rebentar a qualquer momento. Com uma mão enfiada nas calças, é assim que o homem acabou por mostrar o que tem para ceder, sempre, claro está, que os seus serviços forem solicitados com alguma antecedência. O barco a atracar afinal é apenas um pensamento que não se concretizou ainda, é só vontade. O homem não se sabe explicar de outra forma. Ensinaram-lhe à força como se conquista o amor: com duas estaladas e muitos pontapés naquela cabeça. É enterrando o pénis com força que se constrói o amor. Foi assim que lhe ensinaram a mostrar a sua superioridade. Deste facto a educação desleixou-se: quanto à verbalização. Não se consegue explicar, o homem, porque mete a mão nos locais menos públicos do seu corpo para ter aquela menina que só pensa que pode estar a ficar atrasada para exame de Aritmética, a começar dentro de vinte cinco minutos. O medo pode provocar o esquecimento? interroga-se. Tenta depois lembrar-se dos conceitos estudados até às três da manhã. O barco a atracar, é o único conceito que lhe ficou na memória.



autor: rui almeida paiva

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