segunda-feira, 20 de julho de 2009

octogésima tentativa para chegar ao mesmo sítio

Estória 1

Paula é atraente. Paula quando anda detesta resistir aos passos de igual forma. É em Paula, o amor, um conceito? Para estranhos Paula é bonita, para conhecidos é apenas mulher inatingível. Paula é perfeita para alguns e o resultado de um acontecimento sonhado para outros. Na cama de cada um dos estranhos que a observam, Paula ficaria bem. Acrescentaria algum entusiasmo aos lençóis há muito frios e sem odor a lutas entre sexos que endurecem. Paula sem roupa é mulher nua, é um único osso. Paula vestida é um conceito. Estranhos apoiam-se em Paula nua, naquele osso apetitoso, para sonharem numa cama mais apetrechada. Carne convincente recheada de prazer. Paula é um osso fora do seu corpo quando se despe para um homem. Paula quer dizer que sabe pensar e que também sabe desejar: para isso tenho os meus próprios ossos a funcionar, explica. Paula quer alguém que olhe para o seu corpo como um conceito e não como um osso. Muito poucos foram os homens que conseguiram sair-se bem com Paula. Tocar Paula é um desafio. Beleza em exagero pode prejudicar o apetite. Paula já está habituada a que lhe peçam desculpa por não ser concretizável a excitação do membro, e por consequência a impossibilidade de entrada pela ruela devida. Paula é estreita lá em baixo e mesmo com o membro inchado é difícil a entrada. Paula, nos dias em que a revolta é um nervo beliscado, escolhe um desconhecido ao acaso para lhe dizer: gostava que me fizesses isto e gostava que me fizesses aquilo. Resultado: Paula Osso é comida com delicadeza e com distinção. Paula não é uma mulher qualquer aos olhos dos outros, tem que ser tratada com requinte. Paula Conceito é virgem, Paula Osso é puta.


Estória 2

Uma das putas chegou ao limite aceitável da beleza. No mesmo dia, no mesmo local de sempre, a puta apresentou-se apetrechada de novo utensílio para atrair as atenções seduzíveis: uma viola, trazia a puta debaixo do braço. Substitui-se o corpo por ordem melódica, fórmula empregue por investigadores que acreditam na selecção natural do Homem. A puta é puta desde os treze anos de idade e viola as estratégias da normalidade desde o tempo em que não se podia queixar (desde sempre, reflecte; desde onde lhe chega ir a memória). Não acredito em Adão e Eva, acredito em dinossauros e em Homosapiens, diz ela alto quando os outros a tratam como ridícula. Não é uma viola que te vai fazer ganhar clientes, ó sabes tocar no instrumento com prepúcio ou então metem-te na gaveta dos artistas inutilizáveis. O utensílio novo de sedução não tinha funcionalidade: não tinha cordas; tinha sido encontrado no lixo e era mais lixo que ruído. Um dia a puta entrou neste barco. A viola às costas, naquele momento da sua vida, era menos horrível que o seu corpo. Só mesmo alguém que quisesse seduzir uma viola é que poderia aceitar comprar uma hora na companhia da puta. A puta, na viagem de barco, atirou-se ao rio sem a viola. Quase ninguém reparou na falta de um tripulante insignificante. Mas meia dúzia de homens, vindos não sei de onde, lutaram pela viola que parecia satisfeita.

autor: rui almeida paiva

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