terça-feira, 21 de julho de 2009

octogésima primeira tentativa parachegar ao mesmo sítio

Estória 1

A senhora de pouca idade escondeu a felicidade por detrás de um armário para ninguém a encontrar. Os anéis valiosos escondeu-os debaixo da almofada, onde iriam os ladrões primeiramente. Levem-me o ouro mas não a vida que tenho. Ladrões de mão cheia ficam hipnotizados com o mundo pequeno e não procuram os outros lugares que se escondem. A senhora, uns anos mais tarde, necessitou de alguma felicidade. Foi para trás do armário. A felicidade lá estava, sozinha, abandonada quase uma vida completa. Tinha passado de validade, a felicidade. Tinha perdido o ouro.


Estória 2

A mãe passou a criança para a frente. Num pano envolto ao tronco, a criança aninha-se. O barco faz de baloiço e faz de ajudante no acto de adormecer. As pernas pendentes da criança seguem um ritmo. A criança, de raça negra, tem uma mãe com características raras: branca, ruiva. Passou-se aqui alguma coisa. Talvez dois corpos de peles desconhecidas se tenham encontrado nas secreções. A mãe levantou-se. Das pernas sobressaiu textura inconveniente. Pernas pretas. Completamente escuras. Em caso de acidente, alguém que a encontrasse debaixo do automóvel despistado estaria disposto a imaginar de onde vieram as suas pernas inadaptadas ao resto? O miúdo não sai à mãe, sai ás pernas da mãe, diria o médico, no acto da autópsia.


autor: rui almeida paiva

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