quarta-feira, 29 de abril de 2009

trigésima quarta tentativa para chegar ao mesmo sítio

Fascinam-me as pessoas que passam o dia a realizar tarefas repetitivas e supérfluas. Vejo-lhes, quase sempre, no olhar, uma necessidade de sabedoria muito mais completa do que a que estão sujeitas diariamente no seu ofício laboral.
Um dia, num restaurante decadente, sentei-me numa mesa completamente esquecida. O pó tinha encontrado uma habitação agradável para passar um bom bocado. Estimulei o dedo. Escrevi: Capítulo I, e as letras, nítidas, gravaram a minha intenção. Na continuação desta inscrição apareceu a empregada. Jovem. Bonita. O que deseja? Olhei-a nos olhos. Desejo-a a si, respondi-lhe naturalmente. Ela sorriu.
No dia seguinte, quando lá voltei, ao sentar-me na mesma mesa reparei que por baixo do que tinha escrito estava o início de uma narrativa cativante. Palavras. Palavras. Palavras. Todas impressas através do pó. A empregada, nesse dia, estava sozinha e despiu-se antes de falarmos um com o outro. Sentou o rabo em cima do «Capítulo I» e de lá (da posição de sentada e de pernas abertas) pediu-me para a tocar. No final, fizemos amor e apagámos, conscientemente, talvez o início de um excelente conto infantil.


autor: rui almeida paiva

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