quarta-feira, 22 de abril de 2009

trigésima primeira tentativa para chegar ao mesmo sítio

Dissolvendo-se longamente no odor a cadáver putrificado, o vento quente sugeria um suor húmido a tactear a desgraça. Alguém foge quando a guerra entra em funcionamento com homens lá metidos no meio. O silêncio mantém-se, embora o risco, sem fazer batota, aumente. Quem será o próximo a morrer? aqui está um pensamento comum a friccionar os cérebros dos aliados e os cérebros dos inimigos. Perplexo com a pontaria, o soldado que foge esconde-se atrás de um muro feito de livros. Eram meus, todos estes volumes coloridos; o soldado tinha-os deixado à porta de casa, mesmo antes de partir para a guerra. Um tiro é lançado na sua direcção. É o primeiro tiro desde as seis da manhã. «Ficções», este é o nome do livro que foi atingido. Um buraco no lado superior direito. O soldado olha pela consequência do ódio: olha pelo pequeno buraco realizado pela bala, e através dele apercebe-se que tem três homens muito irritados à sua frente. Se tivesses de escolher um livro para levares para a morte, qual levarias? Mostrei-lhes o livro que tinha na mão: levaria este, respondi-lhes eu, é que dois companheiros baleados têm sempre uma maior complexidade entre si.

autor: rui almeida paiva

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